História Geral do Atendimento à Pessoa com Deficiência
Pré-História
Nas sociedades de cultura primitiva, os povos eram nômades, sobrevivendo da caça
e da pesca. Estavam sujeitos às intempéries e aos animais selvagens. Tudo isto
dificultava a aceitação de pessoas que fugiam à rotina da tribo, pois, incapazes de
irem à busca da caça e de sobreviver por si mesmos à agressividade da vida, essas
pessoas mostravam-se dependentes da tribo. Por este motivo, eram abandonadas
em ambientes agrestes e perigosos, o que inevitavelmente contribuía para sua
morte. Embora não se tenham registros declarados da existência de pessoas com
deficiência nesta época, estes dados levantam a hipótese de tal ocorrência.
Antiguidade
O contexto educacional que a sociedade atual oferece àqueles que apresentam
alguma deficiência para se adaptar à expectativa da comunidade em que vivem é
fruto de um processo histórico social que remonta à Idade Antiga.
Em Esparta e Atenas, crianças com deficiências física, sensorial e mental eram
consideradas subumanas, o que legitimava sua eliminação e abandono. Tal prática
era coerente com os ideais atléticos, de beleza e classistas que serviam de base à
organização sociocultural desses dois locais. Em Esparta eram lançados do alto dos
rochedos e em Atenas eram rejeitados e abandonados nas praças públicas ou nos
campos.
Aristóteles e Platão admitiam essa prática, coerente com a visão de equilíbrio
demográfico, aristocrático e elitista, principalmente quando a pessoa com deficiência
fosse dependente economicamente.
Quanto aos corpos de constituição doentia, não lhes prolongava a vida e os
sofrimentos com tratamentos e purgações regradas, que poriam em
condições de se reproduzirem em outros seres fadados, certamente a
serem iguais progenitores.
[...] também que não deveria curar os que, por frágeis de compleição não
podem chegar ao limite natural da vida, porque isso nem lhes é vantajoso a
eles nem ao Estado (Platão, 429-347 a.C.).
Idade Média
Na Europa, em geral, a atitude para com as pessoas com deficiência era a mesma,
até a difusão do cristianismo. Entre os milagres de Cristo, aparece em grande
número a cura de deficiências física, auditiva e visual. Um exemplo de influência dos
ideais cristãos é a figura de Nicolau, Bispo de Myra, que nos anos 300 d.C. acolhia
crianças e pessoas com deficiência abandonadas.
Com o cristianismo estas pessoas ganharam alma e, eliminá-las ou abandoná-las
significava atentar contra os desígnios da divindade. Assim, ao longo da idade média
são consideradas “filhos de Deus” (anjos retratados em pinturas da época possuíam
características de síndrome de Down). Todavia, a igualdade de status moral ou
teológico não correspondia à igualdade civil e de direitos. A pessoa com deficiência
mental passa a ser acolhida caritativamente em conventos ou igrejas, ou, quando a
deficiência não era acentuada, sobrevivia na família, escapando à exposição (prática
do abandono à inanição ou servindo como palhaços ou atrações em circos).
Na época, Martinho Lutero defendia que pessoas com deficiência mental eram seres
diabólicos que mereciam castigos para serem purificados (Lutero conheceu um
menino de 12 anos, na cidade de Dessau que se empanturrava de comida, babava e
gritava quando as pessoas se aproximavam. Sugeriu ao príncipe da cidade que o
afogasse no rio).
No século XIII, surge a primeira instituição para pessoas com deficiência, precursora
de atendimento sistemático. Era uma colônia agrícola, na Bélgica, que propunha o
tratamento com base na alimentação, exercícios e ar puro para minimizar os efeitos
da deficiência.
No século XIV, surge a primeira legislação sobre os cuidados com a sobrevivência e
com os bens das pessoas com deficiência mental (Da praerogativa regis, baixada
por Eduardo II, da Inglaterra). O rei era responsável por esses cuidados e recebia a
herança como pagamento. Nessa lei surge a distinção entre a pessoa com
deficiência mental e com doença mental; a primeira, “loucura natural”, pessoas que
sofriam de idiotia permanente e, a segunda, “lunática”, aquelas que sofriam de
alterações psiquiátricas transitórias. O doente mental tinha direito aos cuidados sem
perder os bens. A lei não deixou de marcar a diferença entre eles.
A Inquisição católica, na Idade Média, foi responsável pelo sacrifício de pessoas com deficiência mental entre loucos, adivinhos e hereges. O “Diretorium” de Emérico de Aragão prescrevia a tortura, a fogueira e o confisco de bens para qualquer conduta herética ou obscena, além da recusa em responder ou dar respostas sem nexo quando interrogados. Durante a Inquisição, foi criado o “Malleus Maleficarum” (1482), manual de semiologia, capaz de “diagnosticar” bruxas e feiticeiros; considerava sinais de malformação física ou mental como ligação com o demônio, o que levou muitas das pessoas com estas deficiências a fogueira da inquisição.
Os filmes "O nome da Rosa" e "As bruxas de Salém" retratam as práticas da Inquisição e a
filosofia da Igreja Católica da época.
Idade Moderna
No século XVI, surgiram dois intelectuais: Paracelso, médico e, Cardano, filósofo.
Paracelso, no seu livro “Sobre as doenças que privam o homem da razão”, foi o
primeiro a considerar a deficiência mental um problema médico, digno de tratamento
e complacência. Cardano, além de concordar que a deficiência era um problema
médico, se preocupava com a educação das pessoas que apresentavam a
deficiência.
Ainda neste século, novas leis definem a loucura e a idiotia como enfermidade ou
produto de infortúnios naturais, com o objetivo de disciplinar a administração de
bens e heranças dessas pessoas.
Em Londres, em “Cerebri Anatome”, Thomas Willis apresenta uma postura
organicista da deficiência mental, argumentando, cientificamente, como um produto
de estrutura e eventos neurais. Essas explicações, contudo, não mudam de imediato
a visão que a sociedade tem das pessoas com deficiência. Ainda prevalecem as
atitudes religiosas.
Percebo que mudamos, hoje temos a¨ inclusão " o que sabemos que na prática não é bem assim, mas temos recursos e acima de tudo sabemos que ser diferente é normal.. Falta nossos governantes ter a conciencia que precisa mais investimento nos setores para que realmente a inclusão seja levada a sério. Nas escolas precisamos correr atrás de cursos e de acessibilidade para os alunos que recebemos em sala de aula.
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