A importância de ensinar Questões ètnico raciais na educação faz com que as crianças aprendam desde cedo a respeitar o próximo sem pensar nas diferenças, pois a criança não faz distinção, o adulto é que ensina.

Para que a escola consiga avançar na relação entre saberes escolares/realidade social/diversidade étnico cultural é preciso que os (as) educadores (as) compreendam que o processo educacional também é formado por dimensões como a ética, as diferentes identidades, a diversidade, a sexualidade, a cultura, as relações raciais, entre outras. E trabalhar com essas dimensões não significa transforma-las em conteúdos escolares ou temas transversais, mas ter a sensibilidade para perceber como esses processos constituintes da nossa formação humana se manifesta na nossa vida e no próprio cotidiano escolar. Dessa maneira, poderemos construir coletivamente novas formas de convivência e de respeito entre professores, alunos e comunidade. È preciso que a escola se conscientize cada vez mais de que ela existe para atender a sociedade na qual esta inserida e não aos órgãos governamentais ou aos desejos dos educadores.
Assim, a instituição por sua vez deve proporcionar condições para que os profissionais participem de momentos de formação de natureza diversa: Tematização da prática palestra sobre questões específicas, visitas a museus, ONGS e espaços culturais, atualizações por meio de filmes, vídeos, e acesso a informações em livros e sites. (Educação Infantil e práticas promotoras de igualdade racial, 2012).
De acordo com Nilma L. Gomes, o fato de que Pensar na inserção política e pedagógica da questão racial nas escolas significa muito mais do que ler livros e manuais informativos. Representa alterar os valores, a dinâmica, a lógica, o tempo, o ritmo, e a estrutura das escolas. Significa dar subsídios aos professores, coloca-los em contato com as discussões mais recentes sobre os processos educativos, culturais, políticos. Mas para que isso aconteça não basta somente desejarmos ardentemente ou reclamarmos cotidianamente de que nenhuma iniciativa tem sido tomada. A escola e os educadores têm que se mobilizar.
Diante disso, o professor deve estar atento e proporcionar mudanças que estimulem formas positivas de interação, além de estimular novas perspectivas entre as crianças. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio da leitura de histórias em que surjam heróis e princesas negras, a fim de ressaltar situações em que pessoas negras em ação têm destaque positivo. Isso influenciará na construção de novos repertórios em relação à identidade das crianças afro descendentes. (CEERT 2012,).
Visto que, segundo Trinidad (2011), a mídia, por exemplo, contribui quando apresentam, na maioria das vezes apenas crianças e adultos com as seguintes características: cor de pele branca, olhos azuis e cabelos lisos.
Sob o mesmo ponto de vista, Maria Aparecida Silva Bento (2011), ressalta que cada um de nós gosta, em geral, de nossas características que são apreciadas pelos outros. Necessitamos de imagens positivas acerca de nós mesmos, ao menos em alguma medida, “bons”; senão o ódio e a agressividade que fazem parte de nossa vida emocional atacam nosso próprio “eu” com consequências severas para o funcionamento psíquico. Assim, quando uma criança recebe mensagens contínuas de que não é tão bonita, tão atraente quanto sua coleguinha, ou de que seus traços são considerados feios, ou expressão de sujeira terá um grande problema na formação da identidade desta criança.
Desde cedo à criança constrói conceitos acerca do que é belo, bom, mal, e na maioria das vezes esses conceitos repassados pelos educadores estão pautados numa visão de padrão de comportamento e estéticos ditados pela mídia, que é o padrão do mundo branco. De forma intencional ou não, buscamos a igualdade com esses parâmetros. Porém, buscar a igualdade não pressupõe deixar todos iguais dentro de uma mesma cultura, pois a igualdade não elimina a diferença, acaba muitas vezes naturalizando e mascarando o preconceito e a discriminação.(Acolhendo a Diversidade, 2009).
É importante lembrar que os estereótipos como os preconceitos, desempenham uma função social. O estereótipo pejorativo, negativo, cumpre a função de manter a ideologia do grupo dominante. É um legitimador ideológico de políticas intergrupais que racionaliza e explica diferenciações de tratamento. Por exemplo, a justificativa para um tratamento desigual, dirigido a crianças negras, surge a partir da ideia de que elas pertencem a grupos inferiores. (Políticas publicas de promoção da igualdade racial CEERT 2010).
“Quando o professor lê, oferecem as crianças a possibilidade de fluição de um texto bem escrito, de apreciação de belas imagens, nas ilustrações, o contato com a linguagem escrita e a oportunidade de se identificar com os personagens, refletir sobre aspectos de sua vida, seu cotidiano, de sentimentos e pensamentos.” (CEERT,2011).
Segundo Trinidad (2011), as crianças em idade pré-escolares, fazem uso do preconceito e da discriminação por meio do plano verbal, e à medida que vão adquirindo mais idade, tendem a transformá-los em atitude, portanto valorando os vocábulos raciais diferentemente.”. Vale ressaltar que de acordo com Trinidad (2011) os atributos negros- especificamente a cor da pele e a textura do cabelo não construíram obstáculos para a interação social: crianças brancas, negras, e mestiças brincavam e conviviam de maneira amistosa em dupla ou grupos”.
Portanto, isto nos remete a certeza de que é desde a educação infantil que as questões raciais devem ser abordadas, e que se construam iniciativas para se concretizar projetos nas unidades de educação infantil.
1.4 Organizações dos ambientes de aprendizagem
Os ambientes de aprendizagem para a igualdade racial devem ser abertos às experiências infantis e possibilitar que as crianças expressem seu potencial, suas habilidades, e curiosidades e possam construir uma autoimagem positiva. Educar para a igualdade racial na educação infantil significa ter cuidado não só na escolha de livros, brinquedos, mas também cuidar dos aspectos estéticos, como a eleição de materiais gráficos de comunicação e de decoração condizentes com a valoração da diversidade racial. (Educação Infantil e práticas promotoras de Igualdade Racial,2012).
Para Eliane Cavalleiro (2003) não se pode deixar por conta de um silêncio criminoso crianças sofrendo diariamente situações que as empurram e as mantem em permanente estado de exclusão da vida social. É portanto, indispensável a elaboração de um trabalho que promova o respeito mútuo, o reconhecimento das diferenças, a possibilidade de se falar sobre elas sem receio e sem preconceito.
Assim, músicas, danças, que fazem parte das manifestações culturais devem ser mostradas as crianças e fazer parte do cotidiano das unidades escolares e do trabalho do professor. São grandes heranças culturais dos povos Africanos, como a capoeira, maculelê, jongo, samba, umbigada, etc. e merecem destaque no aprendizado das crianças. Cantigas, músicas infantis, fazem parte, porém é preciso diversificar o repertório de musicas apresentado às crianças. Precisam aprender que há muitos e variados tipos de musica. Logo, quando as paredes estão repletas de desenhos fixos pintados por adultos, com personagens infantis de origem europeia ou norte-americana, exortações religiosas de uma única religião, ou ainda letras e números com olhos, bocas e roupas, etc., há uma concepção de infância homogênea infantilizada e branca. .(Educação Infantil e Práticas Promotoras de Igualdade Racial, 2012).
Conclui-se portanto, que as crianças não se sentem representadas nas figuras, nos materiais didáticos, nos brinquedos, filmes e imagens que compõem murais das escolas, Logo, não é apresentado as crianças variedade de músicas, histórias, brincadeiras, parece não haver espaço na escola para de fato contemplar a diversidade, para de fato implementar a lei 10639/03 no âmbito escolar.
“Quem não se vê não se reconhece.
Quem não se reconhece não se identifica.
“Quem não se identifica, não se ama, tem baixa auto-estima e se desinteressa por tudo o que representa a educação formal.”
Texto: Oswaldo Faustino “Reflexões diante de um espelho sem reflexo”. Nov.2007.
Visto que, as diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil ART seis inciso I e III indica que as propostas pedagógicas de educação infantil devem respeitar os princípios da solidariedade e do respeito ao bem comum, e as diferentes culturas, e respeitar liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais.
Com isso, o planejamento do professor deve contemplar a igualdade racial, e promover atividades onde haja interação entre as crianças, que valorizem atitudes de respeito, colaboração, e que possam contribuir para uma autoimagem positiva. As crianças precisam se reconhecer, identificar-se, ter orgulho de suas características, no entanto é preciso que se construam novas práticas.
Logo, se as crianças negras receberem mensagens positivas dos adultos e de seus pares acerca de seus atributos físicos e demais potencialidades aprenderá a se sentir bem consigo. De outro lado, se as crianças brancas aprenderem que seus atributos físicos e culturais não são os melhores nem os únicos a serem valorizados os dois grupos aprenderão a considerar as diferenças como parte da convivência saudável. ( Educação Infantil e práticas promotoras de igualdade racial,2012)
Pesquisa realizada na Universidade Federal de Lavras (UFLA) aponta a importância de trabalhar questões étnico-raciais na educação infantil. As análises são decorrentes de dois projetos realizados pelo Departamento de Educação (DED) em parceria com escolas públicas do município de Lavras.
O projeto de extensão “Lê pra mim” tem por objetivo contar histórias afro-brasileiras, indígenas e africanas nas escolas municipais de Lavras, e o projeto de pesquisa “Discurso e relações étnico-raciais” discute a inserção das discussões étnico-raciais nas escolas e avalia de que forma acontece essa aplicação, além de analisar os resultados apresentados.
A inserção da temática étnico-racial na educação infantil visa garantir uma educação que supere o racismo e as desigualdades geradas por ele. A professora Luciana Soares, coordenadora do projeto, explica que “a importância de trabalhar questões étnico-raciais com crianças, é, sobretudo pela intensificação da construção da identidade delas, é o momento em que as crianças começam a se perceber no mundo e a perceber o outro”.
Para que os participantes do projeto “Lê pra mim”, composto por estudantes de pedagogia, possam ir para a escola contar as histórias, há uma preparação que se divide em leitura de algum conceito teórico, que tenha a ver com a questão étnico-racial; pesquisa de autores e títulos que serão utilizados de acordo com as faixas etárias e uma discussão que ressalta de que maneira esta história trará aplicação para a vida das crianças.

A contação de histórias é uma maneira lúdica de fazer essa reflexão sobre a temática, assim as crianças desenvolvem o imaginário, envolvem com os personagens, e conseguem se apropriar dos temas. “Em relação aos alunos é possível perceber que após a contação de história há crianças que dizem que seu cabelo é lindo, que adoram a cor da sua pele; conseguem se identificar na história”, acrescenta a estudante Tharine Ribeiro Salles.
As leis 10.639/03 e 11.645/06 que trazem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados (art. 26 A) vigoram há mais de 10 anos, contudo a professora comenta que a sua aplicabilidade está distante do proposto. “Pesquisas apontam que não há explicitamente a inserção no projeto pedagógico e nos planos de ensino questões sobre a cultura afro-brasileira, indígena e africana”.
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